<Eis-me que ninguém me vê
ou
janelas do meu quarto
Léo Arantes
no filme O zero não é vazio >
Sombra
Um sol magro trêsdatarde causava leve sombreado ababaixo do chápeu, refrescava retina no verão de trinta e cinco graus.
Duas pequenas sacolas, nem pesavam além da conta.
Levantar cabeça para ouvir melhor o buzineiro dos ciclistas. Pasmar total, sentir um friomorno na boca do estômago subir e descer e grudar nas pleuras, por instante, ver estrelas piscando osolhos com rítmo para segurar o limomorno inchando as pernas molezandotodo...desidratando os meiacinco quilos. Piscar piscar piscar e arregalarolhos tanto, que a língua secou palavras e ruídos. Os prédios da avenida são joão rodaram comoquerendo cair em torno da-aba-domeu-chápeu.
Ali mesmo, choque total ao ver passar o cavalheiro com um quê, aquele arjeitão elegante e largo.
Recém chegado ao bairro, na primeira vez que vi o sósia de Augusto Boal, me senti... não diante de um fantasma... De uma performance do além sim... aqui mesmo: Ele, o filho do padeiro, espetacular desfilava...
Apenas na minha memória, ria.
Brilho
<para Jac, no espelho do banheiro de lata>
Tempos depois as ameninas choravam já agora, umas lagrimazinhas de Lali e Lena saídas de uma página não escrita por Clarice no ' Isto ou aquilo' da minha imaginação.
- Lena, que linda, por que choras pequena?
- Lali, não chore, pare e fale!
Não adiantavam os versos guiarem minha emoção olhando com olho molhado.
Todos estavam de olho molhado no meu olhar sem leme, no vagão da linha verde.
As gêmeas de menos de hum metro estavam lindíssimas em seus uniformes da seleção brasileira, duas canárias da terra da cocada queimada, com todos aquelas bijus, saia shorts, fitas & tintas e verde amarelos brilhantando nos vidros das janelas & aço inox por todos os lados.
O vagão do metrô sete vezes triste no coração de cada hum-eu e a garganta seca com a goleada que os dez loirinhos mais o negão alemão gravaram na seleção canarinho.
Graciosa
- Valei-me meu sãjosé, valei-me a virgem maria!
( Dona Graça gritou tantas e tantas vezes, a sacolinha de mercado caiu espalhando as mercadorias que nem eram tantas, umas cebolas, couve, alecrim fresco e...).
- É a visão do anjo ! Valei-me, valei -me ...
( Disparou a rezar enrolado, logo alguns meio conhecidos da vila já foram acudi, olhava na minha direção e repetia os benditos já sem desespero e sem pane aparente).
- Venha cá meu filho !
( Segui em sua direção ainda assustado).
- Você já morreu faz uns quinze anos!
- Morri não, estou aqui vivinho como pode sentir minha mão.
- E onde você estava Severino?
- Meu nome é Cláudio, minha senhora.
- Mas é a cara do professor Severino.
- Quantos anos a senhora tem?
- Já estou com noventa e sete, eu moro ali, na rua borboleta amarela.
- É mesmo assim, num dia de sol como esse muita gente confunde um com outro parecido. Disse eu.
- Então Jacinta, me leva pra casa, que já incomodei demais o moço.
( Seguiu amparada pelas netas).
Fiquei constrangido em dizer, que conheci muito bem o defunto em questão, na temporada que viveu naquele lado do jardim helena e em outros vidas, antes de ser cremado na vila alpina.
Manhã
Uma preguiça estava passeando, dezdamanhã, sábado só no caminho da P2, na imagem fincada na câmera tinha um arjeitinho, cara de alegria, não no sorriso dos dentes, lábios... no ritmarolhos, na dança da câmera lenta.
{cg}